Resumo As últimas décadas do Império testemunharam o advento de um núcleo de cafeicultores paulistas que vislumbrou na crise da escravidão uma janela de oportunidades para ampliar os negócios econômicos e a participação na administração pública nacional. Embora se valesse de mão de obra cativa, esse núcleo, de origem campineira, compreendeu que a abolição, caso remediada pela imigração em São Paulo, fragilizaria a cafeicultura escravocrata rival - sobretudo a fluminense. Adotou-se uma política de paciência estratégica, que se dava como forma de evitar rupturas com os correligionários da lavoura paulista e como maneira de aguardar a precipitação dos acontecimentos. Os acenos do núcleo ao abolicionismo, paradoxalmente, deram-se num cenário em que o uso da mão de obra servil não era economicamente arcaico. Mediante levantamento de fontes primárias relativas ao custo da produção cafeeira, concluiu-se que a lucratividade do trabalho cativo não destoava dos ganhos próprios ao sistema livre de produção. A adesão da lavoura campineira à abolição, portanto, não foi uma opção oriunda da planilha contábil de cada fazenda. Tratou-se, conforme ratifica a correspondência entre campineiros, de uma equação de economia política que tinha como fatores o movimento abolicionista, o desmantelamento da cafeicultura rival e o ganho de espaço na administração pública.
Abstract The final decades of the Brazilian Empire witnessed the advent of a group of coffee growers from the state of São Paulo who understood the crisis of slavery as a window of opportunity to expand economic affairs and their participation in national public administration. Despite their use of captive workforce, these coffee growers, based in Campinas, reckoned that abolition, if offset by immigration in São Paulo, would weaken the rival slave-owning coffee producers - especially those from Rio de Janeiro. A policy of strategic patience was adopted, which was conceived to avoid division among fellow coffee producers in São Paulo and to predict the most appropriate time to act. The assent to abolitionism, paradoxically, occurred in a scenario in which the use of servile labor was not economically archaic. Considering the primary sources concerning the cost of coffee production, it is possible to conclude that the profitability of a captive workforce was not dwarfed by the gains concerning free-labor production. The adherence of coffee producers in Campinas to abolition, therefore, was not rooted in the accounting spreadsheet for each coffee plantation. It rather addressed, as confirmed by correspondence among the coffee producers in Campinas, an equation of political economy that included such factors as the abolitionist movement, the dismantling of rival coffee producers and the gaining of ground within the country’s public administration.